Monday, September 03, 2007

Tempo, tempo, tempo, tempo


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Ontem, antes que Casey Stoner alinhasse sua Ducatti para mais uma vitória na MotoGP, eu já comemorava a minha. Nunca antes, na modesta carreira de corredora amadora de longas distâncias que cultivo, obtive resultado tão expressivo. Completei os oito quilômetros da Corrida pela Paz, da Corpore, em 38min55, cumprindo meu objetivo de correr o percurso abaixo de 40 minutos. Menos de cinco minutos por quilômetro, portanto.

Há três semanas, terminada a Corrida do Centro Histórico, fiquei insatisfeita com os 45min38 gastos para percorrer os nove quilômetros da prova. Mais de cinco minutos por quilômetro, afinal. Meu técnico Zé Eduardo Pompeo já não suporta meus queixumes. Tanto que caçoou de leve do meu entusiasmo após a corrida de ontem, como de estivesse esperando mais uma sessão de auto-flagelação.

Não reclamei. Na verdade, terminei bastante satisfeita. Se comparar as duas provas, baixei meu tempo em mais de um minuto, pois na proporção eu faria um tempo acima dos 40 minutos neste percurso mais recente.

Enquanto voltava para casa, me pus a pensar na relatividade do tempo. Uma atleta amadora como eu, disputando a média de uma prova por mês, com alguma dedicação extra nos treinos, um trajeto favorável e uma concentração adequada, consegue reduzir seu tempo em mais de um minuto no intervalo de três semanas. Um atleta profissional, com todos os treinos e cuidados específicos, pode passar uma vida inteira tentando - sem sucesso - reduzir o centésimo de segundo que o separa do recorde mundial dos 100 metros rasos.

Claro. Inúmeras variáveis circundam tal comparação, a começar pela natureza distinta das duas provas, sendo uma de resistência, a outra de explosão. Por isso fui me meter com corridas de fundo, e jamais o faria com corridas de velocidade.

O mesmo princípio vale para as corridas de carro. Milésimos de segundo separando carros de Fórmula 1 são dados normais. Já houve uma corrida - Europa, 1997 - na qual três pilotos fizeram rigorosamente o mesmo tempo no treino classificatório. Villeneuve, Schumacher e Frentzen empataram até a casa milesimal, sendo a ordem de largada definida pela ordem de tomada dos tempos. Quem obteve primeiro o tempo largou na frente, daí a pole atribuída a Villeneuve.

Em corridas de longa duração, a diferença entre os carros tende a aumentar. Nos ralis, então, disputados ao longo de três dias, no campeonato mundial, e em vários estágios diferentes, mais se acentua a diferença entre os carros.

Pois chego em casa e recorro ao Grande Prêmio para descobrir o resultado do Rali da Nova Zelândia. O finlandês Marcus Gronholm, da Ford, venceu o francês Sébastian Loeb, da Citroen, por míseros três décimos de segundo! Até o velho Albert teriam dificuldade para aceitar tão pequena diferença...

7 comments:

Anonymous said...

Ontem mesmo esta revendo pela enésima vez o filme Carruagens de Fogo com amigos do grupo de corridas de rua que faço parte.

Reparamos que em 1924, data dos acontecimentos do filme, o recorde mundial dos 100m estava em 10.4s. Pois bem, passados exatos 83 anos a marca baixou para 9.77s, cerca de 0.63s. Neste mesmo período o recorde mundial da maratona baixou 24min e 6seg (de 2:29:01 para 2:04:55).

Parabéns pela marca na corrida, Alessandra. Um recorde pessoal para nós, "relis mortalis" no esporte sempre é bem vindo. Esta semana tenho teste de 10 k e a meta é 44 min. Será que dá?

Abraços
Andre

Anonymous said...

Parabéns Alessandra ,mas faltou a cereja do bolo .Qual foi a posição final de nossa heroina?
Melhorou também?
Lembra da F1 em 79,a lotus 79 dominante em 78 ,melhorou seu carro para o ano seguinte em 1s ,quando a concorencia ganharia 3s.
Como vc é Ferrarista ,como foi o desempenho das Mclarens ?

Jonny'O

Anonymous said...

Sim Alessandra, este tipo de insatisfação é próprio de quem faz as coisas com amor, dedicação.
E citando um trechinho da canção que dá nome ao post:
"...e te ofereço elogios, nas rimas do meu estilo..."

Celinho Boy said...

alessandra, em realção ao post anterior, não entenda como exagero. é que eu não me lembrava no momento dum outro conterraneo te e me lembrei destes dois. seria exagero meu ou modéstia tua? neste caso prefiro a última opção.
sobre as pequenas, agora eu tava me ligando: tinha uma época que os organizadores estipulavam em 107% o limite de classificação (por causa disso, a giovanna amato não correu aquele gp do brasil, confirmas? Eu tinha lido uma coluna tua no P total que falava justamente sobre mulher e resistencia fisica). hoje o tal limite de classificação não existe mais. e aquelas equipes que tovamam 7 voltas hoje no máximo tomam 4. contudo, as equipes pequenas ainda sofrem com falta de patrocínio e não conseguem ganhar a não ser como uma adversidade tipo 10 carros saindo da prova, etc e tal

sobre a tua corida, fico muito feliz que tu tenhas batido teu recorde particular. quem não gosta de se superar, né? isso me fez lembrar quando tivemos que dar umas 16 voltas em torno duma pista que existia aqui em pm no tempo que eu estudava(há uns 11 anos). acho que deu no total 3,2 km. e eu me senti muito cansado, morto de cansado, meo. eu me pergunto quantas voltas tu darias em mim, que hoje so tão rápido como umA minardi, :) ABRAÇOS ALESSANDRA E TUDO DE BOM PRA TI

Alessandra Alves said...

andre: obrigada por trazer esses números, eu não os conhecia, e eles reforçam exatamente isso que comentei no post.

sua meta de 44min me parece bem factível. não sei qual é sua marca anterior, mas torço para que alcance o objetivo. me conta depois, hein?

jonny´o: vamos lá - fiquei em 10º lugar na minha faixa etária (76 no total), em 51º no feminino (de 515) e em 536º na geral (de 2.146). já cheguei a ficar em 8º na faixa, mas era uma corrida com menos participantes. achei os três resultados muito bons. mas peralá, rapaz! eu não sou ferrarista, não! tenho maior simpatia e respeito pelas equipes mais antigas, e achei magnífico o início de século que a ferrari nos proporcionou, mas torcer mesmo eu só torço pelo corinthians...

ron: tem razão. essa insatisfação é coisa de gente ultra-competitiva. talvez a corrida me ajuda a canalizar um pouco dessa minha tendência. adorei o complemento da canção, muito obrigada!

celinho boy: não vou entrar no mérito quanto a ser exagero seu ou modéstia minha, mas fico muito honrada com a comparação com estes dois mestres de todos nós.

você lembrou bem da regra dos 107%. não acho injusto que se tenha aplicado essa barreira. o fosso entre as equipes, naqueles tempos, era de fato muito grande. um dia, (bem lembrado!), vou contar o que vi da extinta equipe andrea moda em interlagos, no começo dos anos 1990. essas equipes eram tão ruins, coitadas, que sua presença na pista representava um risco adicional aos competidores. eram as tais "chicanes móveis", te lembras desse termo?

e quanto a eu te dar voltas na pista, aceito o desafio. quando vieres a são paulo, tiramos um racha, a pé, naturalmente, lá no ibirapuera. topas?

Alessandra Alves said...

achei uma foto minha na corrida. quem quiser dar uma espiada:

http://www.sportclick.com.br/pesquisa.php?PHPSESSID=f69744b1c6e7c38c1456e04d34d3a373&step=2&evento=325&numero=2101

Anonymous said...

Muito legal Alessandra
Estou começando a "treinar", sou leve e tenho 45 anos, gosto de caminhar e agora correr, vejo a galera na academia com as camisetas das competições e penso, - um dia vou correr, nem que seja só para sentir a galera em volta -.

Anselmo / SBC