Tuesday, December 25, 2007

Rock Nacional - Top Ten (3)

Tempo perdido – Legião Urbana (1986)

Tenho uma relação confusa com Legião Urbana. Foi uma das primeiras bandas de rock que me cativaram, ao lado dos Titãs, mas fui perdendo progressivamente o interesse por eles. Seus primeiros discos, até o final dos anos 1980, ainda soam vigorosos para mim, mas o que veio depois disso me parece menos criativo e muito depressivo. A morte de Renato Russo, em conseqüência da Aids, em 1996, pôs a fim ao grupo. A escolha por “Tempo perdido” é outra opção afetiva. A música faz parte do disco “Dois”, o segundo do grupo, lançado em 1986, e foi a música escolhida pela minha turma, no terceiro colegial, para a formatura. Tudo a ver: “temos todo o tempo do mundo...”, “somos tão jovens, tão jovens...”. Na eliminatória, “Tempo perdido”, de autoria apenas de Renato Russo, venceu “Há tempos” e “Meninos e Meninas”, ambas parcerias de Russo com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, do disco “As Quatro Estações”.

Homem Primata – versão original com Titãs (1986)

Talvez a escolha mais difícil de toda a lista. A produção de rock dos Titãs é tão grande e tão significativa que a dificuldade começou em escolher três para chegar a uma. Em praticamente todas as fases de sua carreira, os Titãs gravaram rocks importantíssimos para a história da música brasileira, seja pelo vigor da execução ou pelo teor das letras, revelando subversão de valores, rebeldia, experimentalismo, enfim, uma atitude totalmente rock´n´roll. Como escolher o melhor rock dos Titãs quando o cardápio oferece coisas como “Televisão”, “”AA UU”, “Polícia”, “Lugar nenhum”, “Flores”, “Bichos Escrotos”? A opção por “Homem Primata” acabou sendo, digamos, afetiva. Foi a primeira música dos Titãs que me cativou. Presente no expressivo álbum “Cabeça Dinossauro”, a música pinta um retrato cru da involução da espécie humana. “Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda faz o que o macaco fazia, eu não trabalhava, eu não sabia, o homem criava e também destruía...”.

Simca Chambord – versão original com Camisa de Vênus (1986)

Liderado pelo baiano Marcelo Nova, o Camisa de Vênus tinha uma atitude transgressora a começar pelo nome. Foram expulsos da gravadora Som Livre por se recusarem a mudar o nome da banda para algo menos “constrangedor”. Marcelo Nova, o Marceleza, principal mentor do grupo, depois virou parceiro de Raul Seixas, ratificando sua vocação para maluco beleza de carteirinha. Um dos maiores sucessos do Camisa foi “Simca Chambord”, música que aparentemente fala sobre um carro, mas que tem muito mais em sua letra. Fala, no fundo, de uma juventude que floresceu sob o domínio da ditadura militar. Trechos: “O presidente João Goulart um dia falou na TV, que a gente ia ter muita grana para fazer o que bem entender, eu vi um futuro melhor no painel do meu Simca Chambord” ou ainda “Mas eis que de repente, foi dado um alerta, Ninguém saía de casa e as ruas ficaram desertas, Eu me senti tão só, dentro do Simca Chambord, Tudo isso aconteceu há mais de vinte anos, Vieram jipes e tanques que mudaram os nossos planos, Eles fizeram pior, Acabaram com o Simca Chambord.” O Camisa fez outros rocks de sucesso, como “Beth morreu” e “Eu não matei Joana D´Arc”, mas nenhum tão emblemático quanto “Simca Chmabord”.

Vida louca vida – versão original com Lobão (1987)

Talvez a gravação mais conhecida desta música seja com Cazuza, ao vivo. Já doente e começando o processo irreversível que o levou à morte, Cazuza parecia cantar a própria vida quando dizia “vida louca, vida, vida breve, se eu não posso te levar, quero que você me leve”. Era tanta a afinidade com o momento da sua própria vida, que se tornava estranho saber que a composição não fosse dele, mas de Lobão e Bernardo Vilhena. Cazuza carregou na dramaticidade ao interpretar esse rock rasgado, gravado pelo autor em versão totalmente rock´n´roll, com a bateria em destaque, tocada com mão pesada, uma paulada no ouvido. A música parece antecipar o cenário das celebridades instantâneas, que se tornariam os efêmeros personagens da mídia em tempos pós-Big Brother. “Se ninguém olha quando você passa, você logo acha ‘eu tô carente, sou manchete popular’, Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice, dessa eterna falta do que falar”. Entre as escolhidas de Lobão, “Vida louca vida” derrotou “Rádio Blá” e “Corações Psicodélicos”.

O tempo não pára – versão original com Cazuza (1988)

Gravada ao vivo no mesmo show que tem “Vida louca vida”, “O tempo não pára” é, este sim, um rock autobiográfico, com Cazuza declarando sua angústia diante da vida, da eminência da morte mas, sobretudo, reafirmando sua vontade de continuar vivendo. O forte teor existencialista inspirou frases como “Eu sou um cara cansado de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada”, mas também liberou achados de crítica social como “Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam um país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”, retrato exato do Brasil pós-ditadura, tempos de vale tudo e, de certa forma, visão profética dos anos do neoliberalismo que estavam por vir. A música é uma parceria de Cazuza com Arnaldo Brandão. Na eliminatória, chegou a se alinhar junto com “Exagerado” e “O nosso amor a gente inventa”, mas as duas, juntas, não deram nem pra saída. Se fosse uma eleição das melhores músicas de Cazuza, não dos melhores rocks, outras entrariam fortes na parada, como “Codinome Beija-flor”, “Brasil”, “Faz parte do meu show”, “Toda amor que houver nessa vida”, mas, entre os rocks de Cazuza, “O tempo não pára” reina absoluto.

3 comments:

Anonymous said...

Pena qeu de todos os rocks dos mutantes você foi logo escolher o único plágio! DÊ uma ouvida depoois em Time of the Season , clássico dos Zombies e decida você mesmo...

Anonymous said...

Oi. Interessante sua lista. Fui muito amiga do saudoso Júlio Barroso e acompanhei de perto o processo de criação da música "PERDIDOS NA SELVA". JÚLIO BARROSO e MÁRCIO VACCARI fizeram a letra, aliás, MÁRCIO VACCARI é um ator/diretor e poeta da Cena Independente. Sempre viveu à margem, embora seja inegavelmente um grande artista e um grande poeta e letrista, parceiro inclusive de CAZUZA. A melodia de "PERDIDOS NA SELVA" foi feita por JÚLIO BARROSO e arranjada por GUILHERME ARANTES.
Bom... é mais ou menos isso. Parabéns pela lista e pelo blog.
Beijo.

Anonymous said...

Infelismente minha cultura musical não é das melhores, mas concordo bastante com suas escolhas. Sobre o Legião urbana, sempre achei a última fase deles muito depressiva. Parece que o Russo pretendeu colocar um clima de "Flores do Mal", mas o efeito é uma sensação de fim de festa.
No mais, bela foto sua de shortinho...rsss